sábado, 26 de setembro de 2009

Dia da Criação

Eu ia justificar o fato de estar postando um poema que a maior parte das pessoas já deve ter lido ou ouvido. Mas não vou mais.

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Le Sacre du Printemps, ou A Sagração da Primavera

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la." Cecília Meireles.
A Sagração da Primavera é um balé de Stravinsky que narra a história de um ritual pagão que ocorre no início da Primavera, focando a jovem que será sacrificada em virtude da boa colheita de sua tribo.
Considerado um marco do modernismo, repercutiu numa considerável rejeição por parte do público, quando estreou em Paris.

domingo, 20 de setembro de 2009

Yo no he tomado



Pero me voy a tomar un traguito ahora...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dos mistérios da vida


Será que alguém realmente sorri ao ver aquele smile com a frase "SORRIA JESUS TE AMA"?
Se você é responsável por alguma coisa, você é quem vai ter que cuidar dessa coisa horrorosa, E NÃO É NEM SEU PAI, NEM A GRIPE SUÍNA, NEM A FALTA DE CABELO E NEM A GALERA DO CHAPÉU QUE VAI MUDAR ISSO.

sábado, 12 de setembro de 2009

TEM Q VE ISSAE


Plein temps, tempo integral, todo tempo, [pl/ɛ/] [tã], plan tãm, plein temps, todo tempo, plantão.
Plantão.

domingo, 6 de setembro de 2009

Loreena McKennitt, The Mask and the Mirror, The dark night of the soul




Eu achei há uns anos o CD The Mask and the Mirror aqui em casa, não sei como, nem de onde ele saiu. Aí ouvia pra dormir todas as noites. Então levei pra usar numa sonoplastia, de última hora, no Calil Haddad, e ficou perdido. Um tempo depois o Márcio veio me devolver, perguntando se aquele CD era meu. Só voltei a ouvir esses dias. Eu gosto.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Domingo foi dia de ir ao circo.
Um amigo tinha me perguntado: "o que tem no circo?" e eu respondi: "ora, no circo tem palhaço, malabarista, mágico, trapezista, picoca, maçã-do-amor, GLOBO DA MORTE UHA!!!"
No circo também tinha um moço muito versátil, que participou de quase todos os números, pedalando na corda-bamba, que na verdade era uma corda de aço. Em certo ponto do número, um rapaz ia andando vendado pela corda, e, quase chegando ao outro lado, forjava um desequilíbrio, uma quase queda e o moço versátil forjava ameaçar segurá-lo.
Aí eu comecei a pensar: "por que ele fez isso? Qual a vantagem em fingir que não vai conseguir executar o número? Não seria mais admirável que ele executasse com maestria aquilo que ele vem treinando há anos? Enfim, qual o motivo de fingir que vai cair?"
Fiquei divagando e pensei em teorias desde que a intenção fosse que o público se sentisse "honrado" e "especial" em presenciar uma falha, um tropeço do cara, de um, teoricamente, profissional, até que talvez ele tenha mesmo se desequilibrado -NOT
Enfim, a teoria mais aceitável é que o número não era bom o suficiente pra superar a expectativa das pessoas que ali estavam de ver alguma desgraça, ou seja: ver o cara se acabando no chão feito um pacote bêbado era melhor do que vê-lo fazendo direitinho o número... Como fazer o cara cair no chão mesmo é meio inviável, então eles só deram um prazerzinho de expectativa na galera.